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Para ti linda

Somos matéria temporária
que haja sempre uma morte que nos desfaça,
mas não a tua, não desfazendo,
Podes morrer à vontade, pouco me importa,
Desde que me mates antes, claro,
A felicidade é uma corda interna atada ao pescoço, carne faminta, impossível,
Como apareceste invisível e me impediste de ver?,
Quero o prodígio do mundo, o imperdoável,
Ou perder-me no enigma,
Quero lá bem saber de onde vim e para onde vou se me aconteces todos os dias, antes analfabeto que insensível,
Que violência é esta que se tira das letras?,
Antes um erro que estrangeiro em mim,
Nenhuma urgência falta inglês,
can you love me forever,
Por favor?

"Cortas-me?"

Não sou um coração magoado mas, o que tenho, antes não mo tivessem dado.
Gostaria que mo arrancasses do peito.
Fazes isso?
Metes-me a faca na carne e cortas a eito?
Fazes isso?
Não precisas de ter a mão firme e fazer um corte com jeito.
Mesmo que deixes um desnível na carne, e o sangue escorra sem arte.
A imperfeição é um aparte.
Aceito.
Oh, diz que fazes!
Diz que és dessas pessoas capazes.
Corta-me com determinação assassina.
Escava-me o peito com a mesma ganância obcecada com que se procura o maior diamante nas profundezas da mina.
E, depois, diz que o fizeste por amor...
Seja o motivo qual for.

Pássaros Feridos

Estremeço,
já não vejo os pássaros que nasciam na garganta
quando dizias meu amor.
Esses partiram há muito
e no seu lugar, quero dizer-te,
sonham tempestades.
Nunca a eternidade se demorara na pele
como nesse tempo.
Trazíamos o céu entre os anéis
e a força com que apertávamos o paraíso.
Deus sentava-se no coração
a adiantar as horas,
a manhã chegava mais cedo.
Era urgente não adormecer,
viviam-se muitos anos num dia
e cada pensamento
colecionava o mundo inteiro.
O sangue ruiu quando partiste.
Descobri então que o corpo
não tinha lista de espera para as cicatrizes.
Até Deus enlouqueceu,
grita que a escuridão é mais fácil de respirar.
Somos delírios
e a morte um vício para sempre.

Até quando se sofre por amor... (não correspondido)?

Sinceramente eu também gostaria muito de saber.
Sim, porque estou por demais desgastado, feio e sem muita energia boa para compartilhar com as pessoas realmente boas que conheci há pouco.

É muito sofrível sofrer uma dor que atinge em cheio o fígado, depois os rins e em seguida o coração.
Mas por mais que eu já tenha lido inúmeros textos de ajuda, frequentado ou sei lá prestado muita atenção a anciãos de quantas e tantas doutrinas de fé, crença e filosofia, estou próximo a me tornar um C-3PO (o robô dourado de Guerra nas Estrelas) quando raramente saio para andar por aí e "re transformar" no Mestre Yoda quando me escondo no minúsculo quarto onde passei a me ocultar desde que todo meu universo de amor desmoronou.

Reflexão é o que mais ando a fazer ultimamente e já nem me importo se o mundo lá fora está a seguir à risca as previsões dos antigos Maias, se já estamos em 2012 ou se estou a viver dentro de um Cubo do qual não mais consigo escapar.

Entretanto penso que uma graciosa adolescente tem o que eu não tenho e é isso que muitas vezes faz a diferença na vida de uma pessoa.

Essa energia e tanta vitalidade - não que eu nunca tive, aliás, eu sempre fui intenso e de uma energia produzida por reatores atómicos, mas os anos passam e as pancadas que se leva ao longo do caminho vão remodelando as nossas atitudes, redefinindo as escolhas e bombardeando o coração.

Certamente que o desgaste da longa estrada da vida não são só causados por desilusões amorosas, mas por um conjunto de desilusões que fazem pessoas como eu, isto é, altamente sem resistência às perdas, arriar as velas e deixar outros ventos passarem para longe.

O que estou a dizer é que um texto até consegue fazer com que eu, meio C-3PO, meio Yoda sinta no fundo do fundo uma vontade, um suspiro de querer levantar a cabeça, sacudir a poeira (no meu caso seria descascar-me da lama que secou por todo meu corpo) e seguir em frente como se tudo fosse simplesmente aceitável e as mágoas fossem como os sonhos, que hoje são, mas daqui algumas horas caem no esquecimento.

Não, infelizmente não é assim.
Envolve muito mais que o sofrimento da perda, da mágoa, da dor, da angústia e da tristeza.
Este sofrimento rouba a fé, estraçalha a esperança e decepa a autoestima.

Eu quero ser feliz, mas já nem sei se quero mesmo.
Eu quero amar e ser amado, mas já nem sei se quero mesmo.
Eu quero voltar a dar gargalhadas como há dez anos, mas já nem sei se quero mesmo.

Considerem, para visualizar o meu pensamento, que o conflito reluz em cor azul néon e a angústia cintila em cor magenta, então digo que há um conflito pulsante que se mistura com a angústia dentro de meus pensamentos e sentimentos que me lançam para dentro de um tribunal de julgamento onde sou o réu a ser julgado pelo juiz que sou eu também.

Sou eu acusando-me e defendendo-me simultaneamente pelos dissabores que dei e recebi na relação, na empresa e até na vida social.

Como o filme com Kevin Spacey em "O Psicólogo - O Doutor está fora..." (Shink), ora estou na condição do doutor, ora na condição de paciente, ora em nenhuma condição, ou seja, conflitos que geram angústias o tempo todo.

Então agora vocês entendem a profundidade do que estou a dizer?
É disso que falo.
Deveras que aos 20 anos, isto é, há 10 anos eu estava exatamente o oposto do que estou atualmente, mas é que há quase 11 anos eu não tinha apanhado tanto da vida como apanhei aos 23 anos.
De bom conselheiro do amor e do comportamento resiliente humano que eu era, agora não ouso nem mesmo encaminhar uma carta para quem quer que esteja a precisar dela neste momento.

Não agora, não é meu momento.
Será que estou errado mesmo assim?

Tenho 29 anos e sinto-me com 93, mas já nem sei se tenho 29 mesmo.
Quando perdem o chão por amor desgraçadamente destruído, vão-se os projetos de vida, os sonhos, as metas e tudo o que girava em torno da graciosidade que era a vida.

Digam todos que é depressão, talvez tédio, há quem diga que é a síndrome do pânico, não importa, quando somos nós o alvo do tomahawk das desilusões tudo muda, até nosso modo de ver e viver a vida.

A minha micro esperança é que de alguma maneira (que não sei como será) isso será superado e a companhia de uma pessoa super ‘’para cima’’, animada… Porém paciente e zelosa será a viga mestra que me arrebatará para o universo das delícias de uma maturidade forte, resiliente e capacitada absurda, e tudo o que tem consumido meu cérebro e os cabelos da cabeça, se tornará fraco o suficiente para nunca mais me atormentar.

Mas isso..... Eu também nem sei se acontecerá.





Pergunta milenar

Mas então como se faz uma declaração de amor?
Em papel selado, na presença de um advogado. Por que não?
As piores declarações são as pífias e clandestinas, do género «Acho-te uma pessoa muito interessante».
As melhores são aquelas que comprometem quem as faz, que se baseiam em provas capazes de serem apresentadas em tribunal, que fazem corar as testemunhas.
As declarações do tipo «Experimentar-a-ver-se-dá» nunca dão.
É melhor mandar imprimir 2000 folhetos e distribuí-los por avioneta à população, devidamente identificados, do que um bilhetinho anónimo de «um admirador».
As declarações de amor têm de cortar a respiração de quem as recebe, têm de rebentar na cara de quem as lê.
O amor e o terrorismo são questões de objectivo, e não de grau.
Como estamos todos a zero, ninguém pode dar conselhos a ninguém.
Há séculos que as maiores cabeças do mundo procuram a frase perfeita de apresentação.
Há as deixas rascas, do género «Deixe-me adivinhar o seu signo» ou «Não costuma cá estar às terças-feiras, pois não?». Há as deixas pirosas, do género «Importa-se que eu lhe diga que você é muito bonita?» ou «Posso só dizer-lhe uma coisa? O seu namorado tem muita sorte!».
Depois, há as deixas supostamente cool, do tipo «O meu nome é Max e eu toco sax» ou, mais formal, «Muito prazer, Luís Bobone, toco saxofone».
Ultimamente, a julgar por recentes exemplos, é moda usar deixas crípticas, do género «Então sempre conseguiu resolver aquilo?» ou «Importa-se de me segurar a bebida enquanto eu olho para si? É que pode apetecer-me bater palmas» ou ainda (versão 1987) «Não se importa de ficar aqui comigo um bocadinho enquanto o meu guarda-costas não volta da casa de banho?».
Todo o amor é um engano.
Trata-se é de nos enganarmos bem.

Eu

Eu não sou o mais bonito nem tenho o sorrido mais lindo.
Eu não me pareço com o Ken e não tenho todos os ideais de beleza, eu sonho acordado e choro sem razão. (sim choro!)
Eu não saio de casa se não me sentir bem, eu tento ser diferente, mas acabo por ser completamente igual.
Eu falo bem inglês e não entendo matemática.
Eu já fui a melhor coisa na tarde de alguém, mas que não fez disso a melhor coisa para a minha tarde.
Eu posso ser muito querido, mas posso ser insuportável quando eu quero.
Eu já fui o homem dos sonhos de alguém.
Eu já fiz juras de amor e já chorei por elas.
Eu conheço muitas pessoas, mas posso contar pelos dedos quem realmente são os amigos de verdade.

Eu.... Sou eu... Assim imperfeito... Humano...
Entre nós há tantos segredos
Que eu queria desvendar
A razão de tantas diferenças
Parece-me maior que o mar
Só que o sentimento é mais forte
Não adianta tentar esconder
Temos que enfrentar o nosso medo
Confiar que o amor vai vencer.

É porque eu sou rio, sou mar — Filipe Ramalheiro, Anarquismos.

É porque eu sou rio, sou mar, sou a gota d’água, o fundo do poço que não tem fim.
Eu sou profundo e raso ao mesmo tempo e me encarno minimamente no cais do porto da escuridão infinita.
Se eu mergulho, não volto e morro afogado porque sou a incerteza em corpo de (quase) gente.
Se eu escorrego na poça rasa, caio e não me levanto mais, porque eu sou o cansaço personificado em corpo de animal (quase) racional.
Eu sou tão particularmente complexo quanto um origami e estupidamente transparente como uma cantiga de roda.
Eu sou o extremo de dois lados completamente opostos e me faço de louco quando minha lucidez se encontra no mais perfeito ápice.
Eu não me entendo e não compreendo o que o meu nome tem a ver com a minha inteligência abatida pelo sol escaldante.
Eu me olho no espelho às 6:37 da manhã e me enfio em minhas olheiras me perguntando qual o preço da escuridão.
E eu grito que sou claro como o dia e que meu sol tem cheiro de solidão.
E eu digo que minha lua se apagou e não quis se sobrepor mais a minha saudade.
E eu brinquei e solucei e corri aos quatro cantos dessa cidade-de-meu-deus voando e me lançando aos ares de toda a minha volúpia, me embriagando com minha felicidade, alagando as melodias de minha agonia.
E as flores que já estavam mortas e jogadas em minha calçada se desfizeram em pó e me encheram até a boca com toda sua beleza e saudade.
Me encarno nos olhos de meu próprio espírito e busco a liberdade que estava engarrafada e era servida aos montes como um vinho refinado.
Meu encarcere lento e repentino correu e se escondeu para nunca mais ser visto em lugar nenhum enquanto eu chorava de alegria, tentando apanhar minha liberdade como um caçador de borboletas busca sua presa bela e única.
Porque a liberdade é só e dá prazer a quem a possui, mas matando aos poucos quem a busca.
E eu, depois de tempos a encontrei e me livrei de minha sina horripilante e ri como se nunca mais existisse o riso e te ouvi chorando porque o peso de suas lágrimas me encheu de alegria. E assim continuou o dia, a noite, a tarde, a vida.
Porque se eu rio… tu mares.


— Filipe Ramalheiro, Anarquismos.

Eu quero o teu beijo, tua boca na minha inteira.



Eu quero o teu beijo, tua boca na minha inteira.
Tua língua madura enroscada na minha, numa busca sem tréguas e sem caminhos.
Eu quero teu hálito perfumado invadindo meu gosto.
Eu quero engolir o teu desejo, colar teu corpo no meu e num abraço sem fim, olhando nos teus olhos, dizer que tudo o que quero na vida é ter você só para mim, como numa poesia.
Eu me despeço e sigo trôpego ao sabor do vento.
A madrugada escura envolve com seu nevoeiro a minha alma e o meu coração segue apertado, batendo descompassado e chorando a tua ausência, gritando a distância dos teus beijos e deixando escorrer uma lágrima vermelha que se misturou ao escuro da noite, enfeitando a saudade e o sofrer de mais uma espera com a cor escarlate.
E vento soprou forte cortando o meu rosto triste, carregando-me para cada vez mais longe.
O vento sibila em meus ouvidos e congela os meus lábios que agora já não sentem o calor dos teus.
Vento cruel, irresponsável, que veio não sei de onde com a missão de nos separar.
Mas que ele não saiba que enquanto soprava com sua volúpia indesejável, ele trouxe para mim o teu perfume.
E eu aqui calado, sorrio pela felicidade de guardar na distância o teu cheiro, que é o meu cheiro que me invade tirano ao sabor do vento.